
(Um jato T33, da BA2)
Ando cá eu, andamos cá nós por tantos e infindáveis lugares e, caso não se vá desta para outra assim tão cedo, chega-se à conclusão, por isto e mais aquilo, de que nunca chegamos a dominar completamente a cena. Muito se trabalhou (muitos), muito se estudou (poucos) e já alguma coisa se viveu (alguns), mas quando estamos prestes a entrar na reta final, vamos tendo a real noção de que "quanto mais viver, mais aprender". Se, por exemplo, eu me tivesse finado ontem, não tinha sabido nunca das vivências e predicados de alguém que, de repente, para mim, deixou de ser simplesmente um meu ex-recruta, como bem escrevi no meu VOLUME II, para se tornar numa figura pública que, segundo soube hoje, através de entrevista na RTP2. Foi, precisamente, o que aconteceu com o rapaz de Vila Franca de Xira, José Ceitil de seu nome, que, depois de concluída a sua atividade profissional, como assistente de bordo da TAP, se dedicou à ingrata mas gratificante tarefa da escrita.
Não sou de preconceitos ou manias, mas não tenho por hábito ligar o televisor da cozinha na hora do almoço. É refeição, é refeição. Basta já as "secas" e arrelias que se sofre por ver/ouvir tanta desgraça naqueles malditos canais televisivos durante os tempos extra comezaina, quanto mais estar a expor-me aos perigos de engolir algum osso ou espinha, contrair um monte de náuseas ou, talvez ainda pior, sujeitar-me a sofrer uma valente indigestão. É que a impaciência para ouvir tanto charlatão e as suas abomináveis "charlatices" é tanta, que, parte das vezes, só me apetece atirar com a peça mais letal, que estiver mais à mão, à "tromba" daquele inocente televisor, que não tem culpa que, algumas mentes depravadas, o tenham inundado de imundices. Hoje, porém, mal tinha acabado de me sentar, e, nem por que sim nem por que não, deu-me na veneta de clicar o ON. Estava auto sintonizado na RTP2. Aqui decorria o programa "Mar de Letras", com o jornalista Mário Carneiro, que conduzia uma entrevista com o José Ceitil.
Como seria de esperar, não conheci logo o entrevistado. Para mim, era qualquer fulano, um rapaz p'raí da minha idade, que fora convidado para conceder aquela entrevista, que falava de escritores, livros e livreiros, ao canal 2 da RTP. É que, pese embora o aspeto capilar ser tão raso como o que conheci em 1965, eles apresentavam a sua (grande) diferença: é que o antigo era rés, mas abundante, ao passo que o atual era raso e raro. Mas, como falavam de literatura, estórias e histórias e edição de livros, comecei a prestar mais atenção ao tema. Foi quando ouvi, da boca do jornalista, e vi escrito na capa de um dos livros, o nome José Ceitil, que tive um lampejo de retrospetiva memorial, que me transportou para mui recuados tempos. Remeteram-me para a Base Aérea nº 2, da Ota, e para uma recruta que dei a um dos pelotões da 1ª Esquadrilha, onde, entre umas quatro dezenas de maçaricos, figurava o soldado-aluno (mais tarde Especialista), Zé Ceitil. Ele, com 18 anos, já jogava na 1ª categoria da U. D. Vilafranquense. Contudo, nem só de Ceitil se faz esta estória de tropa, já que o cartaxeiro Avelar Marques também me fora confiado como discípulo. A este, tive eu que ajudar, alombando, por muitas vezes, com a sua espingarda, quando a certa altura de um qualquer cross, o Avelar já nem podia com as botas, quanto mais com a espingarda...
Daquela recruta, se bem que em pelotões diferentes, também fizeram parte mais alguns rapazes do concelho do Cartaxo. Dos que me lembro, eram: o Domingos Jarego; O Carlos Marecos; o Veríssimo; o Ludgero; o Acácio, da Lapa; o Chico "Maluco", de Pontével, e o César, que, sendo de Lisboa, tinha raízes em Vale da Pinta.
Retornando aos livros, fiquei agora a saber que o Zé Ceitil já tem três ou quatro livros publicados, o que muito me apraz.
Parabéns, Zé Ceitil! E, o que mais te posso desejar, é que continues nessa senda.
Um abraço.
a) José Caria Luís