Na CIMPOR - Souselas
Pois faz hoje 35 anos, que este vosso amigo ia indo deste para o outro Mundo.
Nesse dia 31 de Dezembro de 1980, uma Quarta-Feira, o Rogério Feio, o Cosme, o José Brincano, o A. Cartaxo, o Pedroso e eu próprio fomos, nesse dia, almoçar a Coimbra, ali para os lados da Baixa.
Após o repasto, e como era o dia de fim de ano, houve quem se lembrasse de levar uma "prenda" para a família. Qualquer que fosse, seria decerto bem recebida em casa de cada um. Por isso, fomos ao Joaquim dos Leitões, ali por detrás da Av. Fernão de Magalhães, onde cada qual se apetrechou com uns nacos de bácoro, de pele crocante, que até fazia salivar.
Pouco depois do nosso regresso à Cimpor, fomos informados pelo diretor da Obra, engº Capinha, e pelo diretor de Produção, Rogério Feio, de que, devido à data, a hora para sair seria às 14h30.
Agora, havia que materializar esse esquema com a fiscalização da Cimpor, para isso, desloquei-me aos seus escritórios. Acompanhado do engº fiscal Abel Machado e do fiscal Rolando Rodrigues, ambos da Cimpor, encetámos um périplo pelas diversas zonas do empreendimento, a fim de avisar todas as chefias, tanto das Construções Técnicas, como as da própria Cimpor, que operavam em zonas contíguas às nossas. Mas a ronda foi curta. Não teriam passado mais de 5 minutos, quando, ao sair do Edifício de Dosagem, apanhei com uma viga de madeira, de 16x8, que já vinha em queda uniformemente acelerada, primeiro no capacete e, depois, na cabeça. Esta peça ter-se-ia desprendido de uma lingada de uma grua-torre, desde uma altura de 60 m, tendo sido eu o "premiado" de fim de ano.
Nunca dei por nada, não senti nada. Sei, pelo que me contaram uns dias depois, que todo eu era um charco de sangue, jorrado da extensa fissura aberta no crânio.
Não me lembro de ter entrado nem de ter saído dos Hospitais da Universidade de Coimbra, porque, ainda inconsciente, trataram de me pôr ao fresco, possivelmente para dar lugar a outro.
Por solidariedade, ficaram em Coimbra, o Rogério Feio e o engº Capinha. O Rogério, até pediu à sua esposa que viajasse para a Lusa-Atenas e, assim, já não passou o fim de ano só.
Também a Luísa, depois de deixar os meus dois filhos em Vale da Pinta, viajou, de comboio, para Coimbra.
Depois, foram 2 meses de uma semi-recuperação. Isto porque, a pedido do engº Capinha, pedi alta no Hospital de "A Mundial", em Lisboa e segui para Souselas. Nas poucas vezes que ia à obra, em cada passo que dava, só sentia uma espécie de facadas na coluna. É que, além do crânio, também sofri lesões na coluna e nalgumas vértebras. Ao cabo de 6 meses, já estava 100% operacional e capaz de outra.
Por agora, acabaram-se os lamentos. P'ró ano, para quem cá estiver, há mais.
Uma Boa Passagem e um Bom 2016.
quarta-feira, 31 de dezembro de 2014
segunda-feira, 1 de dezembro de 2014
Os meus 1ºs de Dezembro - Vale da Pinta

Os 1ºs de Dezembro. Como eu os via.
Em tempos que já lá vão, pelos anos 50 do século passado, já o Gregoriano assinalava o dia 1 de Dezembro. O nosso 1º de Dezembro, em terras de Vale da Pinta, caraterizava-se de modo muito simples, mas muito significativo. Pela madrugada reunia-se a Banda de Música que, de modo célere, percorria as principais ruas da terra. Era em marcha apressada que o fazia, porque, na época, o dia não era feriado, e os músicos (quase todos trabalhadores rurais) tinham o compromisso de iniciar a sua jornada laboral ao nascer do sol. O horário, que alguém estipulara para a faina rural, era de sol-a-sol. Mesmo nos dias em que em que o astro rei não se deixava ver, a duração do tempo de trabalho afinava sempre por esse diapasão.
Ainda hoje a iluminação pública em Vale da Pinta não será famosa, mas, naquela altura, ainda com pouca "rodagem", pouco mais watts debitava que a fidelíssima candeia de azeite, de torcida, que ainda alimentava muitas casas da terra. Ora, atendendo a que esta condição era um óbice para que a Banda tivesse um desempenho aceitável, havia que tentar melhorar as condições e, para tal, melhor remédio não havia do que recorrer a uma meia dúzia de voluntários que, marchando por entre as filas dos músicos, e de Petromax à cabeça, tropeçando aqui e ali, lá iam dando luz àquelas sombrias pautas. Não era que o trecho fosse desconhecido dos intérpretes; muitos deles até sabiam aquilo de cor e salteado, mas com os candeeiros de camisa e petróleo sempre a coisa ficava mais facilitada.
A certa altura da marcha, quando alguém se apercebia que havia por perto uma porta que se abria, e dela saía uma alma caridosa que se propunha doar uns figuitos passados, umas broas de milho e uns cálices de aguardente, passava a palavra ao músico Silvestre Caipira, que, na figura de maestro interino, dava ordem de paragem ao cortejo e, em simultâneo, o início da beberrice. Isto, como está bom de ver, tanto para os músicos como para os acompanhantes. Muitos destes, sabendo que, numa ou noutra casa, havia figos e bagaceira de borla, à descrição, trocavam o "vale de lençóis" pela friagem agreste da madrugada invernosa, só para satisfazerem as suas gulas alcoólicas. Que me lembre, ninguém rejeitava carga. E se, àquela hora da madrugada, estava iminente o ritual diário do "matar o bicho"... de graça, melhor seria.
Mas era assim que, durante algumas décadas, se comemorava o 1º de Dezembro na minha terra.
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