"OS CARRINHOS de CHOQUE" na FEIRA dos SANTOS.
De um modo geral, QUASE TODOS nós, quando pequenotes, desfrutámos do prazer de "andar" nos carrinhos de choque.
Na Feira dos Santos, no Cartaxo, aquilo era um corrupio de gente adulta, com a miudagem pela mão, sôfrega, acotovelando-se, em vez de formar fila, para tentar obter um lugar num daqueles carritos, cujos clientes teimavam em não descolar o traseiro do assento, dando a vez aos demais, que desesperavam. E a verdade é que a nossa vez não havia maneira de chegar!...
Mas quando eu digo QUASE TODOS, mesmo não tendo elementos para estabelecer estatísticas, sei bem do que estou a falar. Para mim, enquanto rapazito na casa dos oito/dez anos, de todas as vezes que alapei o rabo num daqueles carros, tinha que assistir, primeiro, a uma zaragata entre o meu pai e um dos "mangas" empregados dos carros de choque. Era o choque inicial, para abrir o apetite e aquecer os motores. Mas, pior que isso, (eu diria melhor que isso) foi uma cena a que assisti, protagonizada, não pelo meu pai, como era costume, mas pelo seu meio-irmão, o "Chico Porreiro". Era de Vale da Pinta, mas casado na Ereira. É que a rede sanguínea, ainda que em dose reduzida a 50%, ainda corria nas veias de ambos, e os maus-fígados também. Para agravar a situação, o "Chico Porreiro" nunca na vida tinha conduzido, nem uma carroça quanto mais um carro de choque. Mas ele lá foi. Muito compenetrado no seu papel, com a filha Ilda pela mão, consegue, enfim, a desejada vaga num daqueles bólides. Pegou na miuda, sentou-a no assento e, ato contínuo, saltou para o interior da máquina, agarrando-se ao volante, com unhas e dentes. Ao troar da sirene, que anunciava o arranque daquela corrida, QUASE TODOS deram ao "start", procurando cada qual posicionar-se de modo a conseguir embater nos adversários, com a força e jeito possíveis, com a perícia bastante para não se deixar atingir. É verdade que QUASE TODOS, porque o meu tio "Porreiro", mesmo de dentuça arreganhada devido ao esforço, à pressão e à vergonha, não conseguia que a sua viatura se deslocasse do sítio de onde o seu antecessor a tinha deixado. O bólide, em boa verdade, lá deslocar, deslocava-se, mas só se deslocava por ação de terceiros. Isto é, como não estava cravado, nem colado ao piso da pista, deslocáva-se... no ar.
O Chico Porreiro" bem protestava, gritava e esbracejava ameçando todos aqueles saloios que, sem categoria nem aptidões para conduzir aquelas viaturas, teimavam em ir chocar com ele. Mas a verdade é que, devido à azáfama e ao ruído ninguém o ouvia. Não o ouviam, mas viam-no! Ou, pelo menos, viam o seu carrito, já que a cadeia de choques não cessava, antes aumentara. E o pior é que havia uns manguelas que riam dele e lhe gritavam: - "Ó seu nabo! Sai do caminho! Carrega na merda do pedal!"
Bem! A pobre da Ilda chorava e chorava, cada vez mais. É que a miuda, ao ver-se envolvida naquele inferno, rodeada de carros por tudo quanto era lado, que se "abatiam" sobre o do pai dela sem dó nem piedade, foi levada a pensar que o Mundo estava todo contra ela, e que só por milagre sairia dali viva. Volvidos os 3 minutos da praxe, que para este duo foram 3 longas horas, a sirene voltava a troar, mas, desta vez, para anunciar o fim das hostilidades.
Agora, já da parte de fora do carro, o "Porreiro", vingativo como era, olhou em redor e ainda esboçou algumas tentativas para tirar desforço de alguém, de um dos muitos malteses que se predispuseram a estragar-lhe a Feira, só que eles eram todos iguais e... às dezenas. E já que, por enquanto, ainda estava inteiro, por que carga de água havia de se aleijar? Pensou e pensou bem: -"Tenho filhas para criar, portanto, o melhor é dar à sola para não mais voltar!"
Não posso garantir se ele alguma vez voltou à Feira dos Santos, mas eu, não sendo muito dado a apostas, era capaz de jurar que, tanto o meu tio "Chico Porreiro" como a prória Ilda, nunca mais nas suas vidas voltaram a pôr o cu naqueles, ou noutros, carrinhos de choque.
Para além do susto da Ilda, a tensão, o tormento e a vergonha por que tinham passado, já bastara.
De um modo geral, QUASE TODOS nós, quando pequenotes, desfrutámos do prazer de "andar" nos carrinhos de choque.
Na Feira dos Santos, no Cartaxo, aquilo era um corrupio de gente adulta, com a miudagem pela mão, sôfrega, acotovelando-se, em vez de formar fila, para tentar obter um lugar num daqueles carritos, cujos clientes teimavam em não descolar o traseiro do assento, dando a vez aos demais, que desesperavam. E a verdade é que a nossa vez não havia maneira de chegar!...
Mas quando eu digo QUASE TODOS, mesmo não tendo elementos para estabelecer estatísticas, sei bem do que estou a falar. Para mim, enquanto rapazito na casa dos oito/dez anos, de todas as vezes que alapei o rabo num daqueles carros, tinha que assistir, primeiro, a uma zaragata entre o meu pai e um dos "mangas" empregados dos carros de choque. Era o choque inicial, para abrir o apetite e aquecer os motores. Mas, pior que isso, (eu diria melhor que isso) foi uma cena a que assisti, protagonizada, não pelo meu pai, como era costume, mas pelo seu meio-irmão, o "Chico Porreiro". Era de Vale da Pinta, mas casado na Ereira. É que a rede sanguínea, ainda que em dose reduzida a 50%, ainda corria nas veias de ambos, e os maus-fígados também. Para agravar a situação, o "Chico Porreiro" nunca na vida tinha conduzido, nem uma carroça quanto mais um carro de choque. Mas ele lá foi. Muito compenetrado no seu papel, com a filha Ilda pela mão, consegue, enfim, a desejada vaga num daqueles bólides. Pegou na miuda, sentou-a no assento e, ato contínuo, saltou para o interior da máquina, agarrando-se ao volante, com unhas e dentes. Ao troar da sirene, que anunciava o arranque daquela corrida, QUASE TODOS deram ao "start", procurando cada qual posicionar-se de modo a conseguir embater nos adversários, com a força e jeito possíveis, com a perícia bastante para não se deixar atingir. É verdade que QUASE TODOS, porque o meu tio "Porreiro", mesmo de dentuça arreganhada devido ao esforço, à pressão e à vergonha, não conseguia que a sua viatura se deslocasse do sítio de onde o seu antecessor a tinha deixado. O bólide, em boa verdade, lá deslocar, deslocava-se, mas só se deslocava por ação de terceiros. Isto é, como não estava cravado, nem colado ao piso da pista, deslocáva-se... no ar.
O Chico Porreiro" bem protestava, gritava e esbracejava ameçando todos aqueles saloios que, sem categoria nem aptidões para conduzir aquelas viaturas, teimavam em ir chocar com ele. Mas a verdade é que, devido à azáfama e ao ruído ninguém o ouvia. Não o ouviam, mas viam-no! Ou, pelo menos, viam o seu carrito, já que a cadeia de choques não cessava, antes aumentara. E o pior é que havia uns manguelas que riam dele e lhe gritavam: - "Ó seu nabo! Sai do caminho! Carrega na merda do pedal!"
Bem! A pobre da Ilda chorava e chorava, cada vez mais. É que a miuda, ao ver-se envolvida naquele inferno, rodeada de carros por tudo quanto era lado, que se "abatiam" sobre o do pai dela sem dó nem piedade, foi levada a pensar que o Mundo estava todo contra ela, e que só por milagre sairia dali viva. Volvidos os 3 minutos da praxe, que para este duo foram 3 longas horas, a sirene voltava a troar, mas, desta vez, para anunciar o fim das hostilidades.
Agora, já da parte de fora do carro, o "Porreiro", vingativo como era, olhou em redor e ainda esboçou algumas tentativas para tirar desforço de alguém, de um dos muitos malteses que se predispuseram a estragar-lhe a Feira, só que eles eram todos iguais e... às dezenas. E já que, por enquanto, ainda estava inteiro, por que carga de água havia de se aleijar? Pensou e pensou bem: -"Tenho filhas para criar, portanto, o melhor é dar à sola para não mais voltar!"
Não posso garantir se ele alguma vez voltou à Feira dos Santos, mas eu, não sendo muito dado a apostas, era capaz de jurar que, tanto o meu tio "Chico Porreiro" como a prória Ilda, nunca mais nas suas vidas voltaram a pôr o cu naqueles, ou noutros, carrinhos de choque.
Para além do susto da Ilda, a tensão, o tormento e a vergonha por que tinham passado, já bastara.