quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

CENA I - Em CT - MARINA de VILAMOURA

 Na Marina de Vilamoura

    Nesta obra da Marina de Vilamoura aconteceram alguns episódios dignos de registo e divulgação. Esses acontecimentos serão integrados no livro "Degraus que Marcam a Vida", Volume II, ainda na fase de feitura. No entanto, houve uma dessas pitorescas estorietas, com uma vertente cómica, que achei por bem divulgar antes da edição do dito Vol. II. Ela aqui vai, contada por mim próprio que fui testemunha presencial.
    O horário semanal estendia-se até às 12h00 de sábado, no entanto, o diretor da obra, engº Brás Menezes, de modo a pôr em prática o seu idealismo progressista, resolveu mandar cessar as atividades às 11h00, para que toda a gente pudesse assistir às reuniões, tipo Plenário, que, agora, iriam ter início.
Assim, reunido o pessoal, todos sentados em longos bancos de madeira, do estilo de taberna, sob o telheiro que servia de antecâmara aos escritórios, mas também de estacionamento às nossas viaturas, estavam criadas as condições para que se desse início ao evento.
    Agora, por indicação do engº Brás Menezes, seria a vez de entrar em cena o encarregado-geral, Hernâni Viana, a quem foi dado o distinto privilégio de fazer uso da palavra. Este, não se sentindo muito à vontade ou com pouca disposição para desempenhar tal missão, tentou fazer ver ao engº Menezes que, como diretor de obra, deveria ser ele a falar às massas. E isso deu aso ao seguinte diálogo:

    - Ó sr. Viana, de acordo com o tema por nós abordado esta manhã, será o senhor que vai falar aos operários! - ao que o H V, reagiu, deste modo:

    - Ó sr. engº, o senhor, como diretor de obra e patrono deste evento, é que deveria dirigir-se às massas e não um subalterno como eu! 
    - Nem pense, sr. Viana! O senhor é quem manda na obra; é conhecido por todos eles. Não eu, que passo o tempo no gabinete e, por isso mesmo, a grande maioria nem sabe quem eu sou. Faça, então, o favor de começar!

    E o Hernâni Viana, apesar de contrafeito, não teve outro remédio que não fosse o de começar o discurso. E começou assim:

    - Bom, meus senhores, estas reuniões, ou plenários, promovidos pela direção da obra, vão ter a periocidade semanal. Quero eu dizer que, no próximo sábado, tal como nos subsequentes, as atividades na obra cessam às 11h00 e, a partir de então, toda a gente se deve dirigir para este local, a fim de participar neste evento. Ficam pois, desde já, a saber que algumas benesses vos irão ser ofertadas pelas Construções Técnicas.

    O pessoal, que sempre teve alguma propensão para gostar de tudo o que tinha a ver com bónus, gratificações e mais uns tostões, quando ouviu falar em receber, em vez de ficar quedo e mudo para escutar a voz do chefe e o que de tão especial ele (em nome do engº BM) tinha para oferecer, desata num ruidoso murmúrio, tentando, cada qual, armar-se em adivinho, o que mais não fez do que lançar a perturbação no discurso do Viana. Este, silenciando-os de pronto e após forte reprimenda aos prevaricadores, continuou:

    - Bom, meus senhores, o que tenho para vos informar é que a empresa já contratou uma cozinheira e, a partir de segunda-feira, vai haver um prato sopa para todos aqueles que o pretendam. Além disso, e agora na vertente cultural, os senhores vão saber que será contratado um professor para ensinar os que pretendam aprender a ler e a escrever. Também, para todos aqueles que, porventura, queiram aprender música, igualmente será colocado à sua disposição um professor dessa área cultural.

    O HV fez um compasso de espera, respirou fundo, tentando ganhar alento para prosseguir, e recomeçou:

    - Meus senhores, por tudo isto, veem que a empresa está aqui para vos educar! Que não restem dúvidas: nós chefias estamos, igualmente, aqui para vos educar!

    Ainda a frase não terminara, e já um estrondoso e assustador ruído troava no ar, proveniente de umas aceleradelas provocadas pelo mecânico Zé Feijão, da Tecnovia, numa pá Caterpillar 930, estacionada ali a poucos metros do local do plenário. O facto levou o HV à ira. E, de modo a esvaziar a raiva que lhe ia no âmago, em alto vozeirão, ordenou:

    - Mandem lá calar essa besta! Calem-me esse filho da p***!

    Esta saída, para um educador das massas operárias, era demasiado forte. Escusado será dizer que, devido ao generalizado coro de gargalhadas e à barafunda que se instalou, a reunião teve mesmo que acabar por ali. A sua continuidade seria adiada, sine die.


    Dedico este episódio à Memória do inesquecível Hernâni Viana.

Extraído de "DEGRAUS e MARCOS da VIDA", Vol. II

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