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Markovic o "Pedre" |
A CADA CABEÇA SEU CRISMA
De há uns anos a esta parte, com especial relevância a partir da Guerra dos Balcãs, que a chamada Europa Ocidental tem vindo a assistir à crescente importação de jogadores de futebol oriundos da ex- Jugoslávia. Em Portugal, por razões óbvias e, por isso mesmo - não tanto como noutros mercados com "lecas" mais sonantes - também tem tido a sua quota-parte no que ao "acolhimento" das famílias "ic" diz respeito.No Benfica, mesmo que os já idos Filipovic e Drulovic tenham passado à história, temos o atual Matic I e os recém-chegados ou vindouros Matic II; Djuricic; Markovic e Sulejmani(c), não restam dúvidas de que, tanto relatores como comentadores vão ter imensa dificuldade quando, em pleno calor dos relatos e análises do todo ou parte, tiverem que pronunciar tais nomes. Certamente, que numa posição mais cómoda estará Jorge Jesus. Este, acusado de ser uma espécie de "língua de trapos" devido à má qualidade linguística que patenteia, especialmente no que concerne às entrevistas dos media, julgo que não terá qualquer handicap em lidar com essa situação, ao tentar identificar os seus pupilos ou a estes se fazer entender.
E o que pensam vocês, do que me habilita a falar assim? Não sabem, pois não? Mas sei eu! E digo isto, porque já não sou nenhum novato nas andanças linguísticas, em especial no que concerne à difícil "Torre de Babel" que, como se sabe, é o simbolismo maior na área da Construção Civil.
A narrativa que se segue vivi-a eu, ali ao vivo, em plena obra, durante a construção da Fábrica de Cimento de Oujda, em Marrocos. E o que muito dessa saga retive e aprendi, não pensem que foi com algum Iman, um el-Caíde, algum Kalifa e, muito menos, com um qualquer Ayatollah, mas sim com um português. Sim. Com um português, mas analfabeto em último grau. Ainda o José Saramago não sonhava compor aquele metaforismo que, referindo-se ao seu avô, diz que: "O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida, não sabia ler nem escrever", e eu já o sentira, pese embora num outro contexto, com uma outra personagem e num outro continente. Mas como tudo o que tem lógica tem explicação, aqui vai a raiz de tudo o que acabei de frasear.
O cenário estava montado. A rodear o centro de gravidade onde eu me encontrava, e a limitar a extensa planície de terras áridas e avermelhadas, ao fundo daquilo que a nossa vista alcançava, jazia uma extensa cordilheira de montanhas: o médio Atlas. Era nesse centro de gravidade, a que aludi, que acabava de ser implantado um complexo industrial designado por C.I.O.R., ou seja a "Cimenterie de l'Oriental". Esta situava-se a 15 km da vila de El-Aioun e a cerca de 40 km da cidade de Oujda. Era um grande empreendimento, cuja construção estava a cargo das Construções Técnicas, SARL.
Devido à extensão da obra, foi esta dividida em três zonas geográficas distintas: zona A; zona B e zona C. O que vou relatar, tem o seu epicentro precisamente na zona A.
Tinha a obra entrado numa fase em que as Fundações estavam praticamente concluídas. Seguia-se agora a Superestrutura que, devido à sua filosofia geométrica, era um tanto mais complexa. Tomando por base uma equipa de Betonagem, cujos operários eram, na sua maioria, magrebinos, em que muitos deles nem sequer sabiam uma única palavra de francês, como poderia o seu chefe (português) controlar e ordenar cada operação e movimento com um mínimo de eficácia? Se ele nem ao menos conseguia soletrar, pronunciar ou decorar cada um daqueles nomes esquisitos para burro, que um dia lhes foram entregues para compor a sua equipa... como iria o capataz, Mário Russo de seu nome, sair-se daquele imbróglio? É que o Mário era analfabeto a 100%, mas, pelo que a seguir se viu, estava longe de ser estúpido. Que solução adotou ele então? Pois, já que ali quem mandava era ele, convocou todo o grupo através de uma estranha sinalética, e com eles reuniu. Dirigindo-se a todos e a cada qual, ditou as suas leis. Sem rodeios, foi direto ao assunto. Formou-os em fila indiana, e sempre que a cada marroquino era perguntado o nome, o Mário Russo, em tom grave e de dedo em riste, ordenava: - "Toi, non Mustaphá, toi, agora, Pedro! Toi, non Rashid, toi, agora, Zé Manel! Toi, non Mohammed, toi, agora, Jaquim..."- E, um a um, lá foi crismando aqueles 12 bárbaros infiéis, contra tudo o que de mais sagrado eles tinham, que era a religião muçulmana e o seu Alá.
Em jeito de conclusão, direi que o Jorge Jesus, que pode ter um certo grau de iliteracia mas não é burro, irá, com toda a certeza, proceder ao Crisma daqueles rapazes que, embora venham de um país de raiz eminentemente cristã, terão que sujeitar-se a passar pelas malhas do "rebatismo" pela mão de Jesus. Assim, só escapa o já conhecido Matic I, porque o Matic II será, por exemplo, o Jorze; o Djuricic será o Atónhe; o Markovic será o Pedre, e para o Sulejmani(c) será adotado o nome de Jaquim. E se, por acaso, mais vierem, mais crismas ocorrerão. Sem nome percetível e pronunciável é que ninguém fica.
Posto isto, nem me passa pela cabeça que o JJ não arranje esta, ou uma outra qualquer mnemónica para, a exemplo do que fez o Mário Russo, decorar com maior facilidade os novos nomes dos seus novos pupilos. Eu fazia-o!
Autoria de José Caria Luís
Nota: Texto escrito com base no Novo Acordo Ortográfico
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