terça-feira, 24 de março de 2015

O novo riquismo é lixado

JOSÉ GUILHERME JORGE DA COSTA, é este o seu nome. Presumo que todos os que, como eu, trabalharam nas "Construções Técnicas", se recordarão dele. Uns, mais que outros lembrar-se-ão dos primórdios do homem que, passadas algumas décadas, entrou na liça da Imprensa e da Justiça. Quando o vi, trajando fato-macaco, todo borrado de óleo, a conduzir uma camioneta, transportando terras, nunca pensei que dali pudesse advir o multimilionário que até se deu ao luxo de doar (?) 14 M€ ao "dono disto tudo", vulgo Ricardo Salgado. Os tempos foram mudando, as obras também, e quando o voltei a ver - na Obra da Doca Seca da Lisnave, em 1969 - nem queria acreditar naquilo que os meus olhos viam. É verdade! Estava eu no escritório, muito compenetrado na feitura do Planeamento PERT, na companhia do engº Machado Soares, quando um inusitado chiar de travões nos "obrigou" a assomar à porta. Saí e dei de caras com um "bólide" verde-garrafa, da conceituada marca "PORCHE", modelo "Carrera", que nos deixou inebriados. É que, à época, nem eu nem o engº Machado Soares tínhamos carro. Eu limitava-me a conduzir uma "Vespa 150" e, e... Nem sequer um Fiat 600 ou um "Carocha", quanto mais um "Porche Carrera"... Mas, mais boquiabertos ficámos quando do seu interior saiu o amigo Zé Guilherme, que se apressou a cumprimentar-nos. Ainda mal refeito do "choque" visual, aproximei-me da luzidia viatura e comentei: - "Eh, pá! Um "Porche Carrera"? Bolas!..." Como resposta, ouvi: - "É verdade, amigo Zé Luís! E já está pago!" Na altura pensei que, mesmo que não estivesse pago, também não seria eu a pessoa mais indicada a quem o Zé Guilherme recorreria para ajudar no pagamento daquela bela máquina. Depois, durante alguns anos, fui acompanhando muitas outras "estórias" de vida do Zé´Guilherme, ao ponto de ele me querer "levar" das "C. Técnicas" para a recém-criada "Tecnovia". Lembro-me de muitas peripécias, mas aquela cena que me deixou um bocado abalado, foi num almoço que o Zé ofereceu aos Quadros das C.T. no Algarve-Sol, em Quarteira. Estávamos, então, na construção da Marina de Vilamoura, onde a "Tecnovia" era nossa subempreiteira, no transporte de enrocamento das pedreiras para a obra. No início do repasto, aquando dos preparativos para aguçar o apetite à malta, - éramos 12 +1, como os Apóstolos e Cristo - o Zé Guilherme levantou-se, chamou um dos empregados de mesa e, do alto do seu metro e oitenta e tal, gritou ainda mais alto: - "Ó chefe, o que é isto?!... Que Wisky é este? Eu só bebo Wisky velho!" Agora, digo eu: - "O novo riquismo é lixado!" Não sei se ele, à data, já era amigo do Ricardo Salgado, mas, de qualque modo, para ter amigos a quem se dê 14 M€, mais lhe valia continuar connosco e pagar, apenas, uns almocitos de vez em quando, para não dar a impressão de "que somos pobres e mal agradecidos". No entanto, nesta fase menos boa, desejo que as coisas corram como o Zé Guilherme bem desejar.

O construtor que presenteou Ricardo Salgado com 14 milhões de euros deixou de figurar na lista de audições. Ia ser ouvido no mesmo dia que Eduardo Stock da Cunha, o presidente do Novo Banco.
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