
Na altura, construíamos a Marina de Vilamoura.
A pequena Quarteira daqueles tempos, nada tinha a ver com a
cidade que hoje se conhece. Todavia, embora fosse pouco mais que uma pequena vila
piscatória, já tinha uma grande afluência de turistas, em especial ingleses. Tinha uns três ou quatro hotéis bem credenciados, a par de alguns bares
onde, à noite, se podia ir beber um copo com os amigos, ou as amigas. Por isso, não se estranhava que a
administração do complexo turístico “AlgarveSol”, situado mesmo à
entrada da, então, vila, organizasse, de vez em quando, uns shows, não apenas
para os seus "costumeiros" clientes como para outras pessoas de fino porte.
Naquela
noite, o anunciado espetáculo prometia. Era nem mais nem menos do que o Alex.
Sim, o ultra conhecido Alex e o seu conjunto. O artista, natural de Portimão,
tinha um grande cartel no Algarve, mas não só, porque o grupo acabava de chegar
de uma longa tournée em França. Além
disso, também fizera uma digressão por Angola, atuando em várias cidades e
tendo proporcionado alguns espetáculos aos soldados portugueses, ali em missão.
Os
convites foram feitos e os convidados apareceram. De entre eles, estavam os
meus chefes, os nossos dois conhecidos engenheiros, Brás Menezes e Analídio Dimas. Contudo, o ser-se convidado
não bastava: era preciso entrar rapidamente no seio, salvo seja, daquelas beldades
que por ali deambulavam, quem sabe se à procura do mesmo, só que de sinal
contrário. Muitas delas, mesmo sabendo que o Alex era um inveterado mariconço, não o largavam da mão. As
tipas, meio histéricas, rodeavam o artista e este, que não estava a gostar dos
apertos, tentava dispersá-las para longe, porém sem êxito. Famoso é famoso. Tem
que possuir estofo para lidar com estas situações, senão mais vale ir trabalhar
para as obras, como servente. Ao menos, assim, não há miúda que lhe olhe para a
tromba, quanto mais apertá-lo.
Mas
agora era tempo de deixar de contemplar, embevecidos, aquele magote de
mulheraças e agir. Mudar de tática, era o que se impunha numa ocasião como
aquela. Tirar partido do convívio do grupo de fêmeas, através da aproximação ao
Alex. Para isso, foram-se aproximando, com pés de lã. Chegados, não foi fácil
chegar à fala com o astro, já que o mulherio, embora de modo suave, tentava
barrar o acesso ao músico. Mas valeu o esforço. Eles, por fim, lá conseguiram.
Como era de ver, os dois amigos estavam-se marimbando para o Alex; o que eles
queriam era partilhar convívio com as garotas, mas o experimentado BM também
sabia que aquele tipo de indivíduos arrasta consigo muita mulherada, por tal
motivo, melhor seria fazer do Alex trampolim e, em seguida, pular para o sexo
oposto. Então, falando para o Alex, mas olhando para as miúdas, começaram por
se apresentar: quem eram, de onde vinham, onde estavam instalados, etc. Daí para a frente,
não importa entrar em pormenores, mas apenas realçar o à-vontade, a facilidade
com que eles se movimentavam no meio, e os relacionamentos que conseguiram
estabelecer com a imensa plateia feminina, está bom de ver. Estava armado o
esquema e a noite ia ser deles.
A
certa altura, as músicas tocadas deixaram de ser do tipo rockeiras e twisteiras. Depois
de uma fugaz passagem com duas músicas em ritmo algo remexido, de raiz africana, como
aquela música do Duo Ouro Negro, a “Elisa Aué, Gomaré Saia”, o Alex
terá recomendado aos restantes componentes do conjunto para que entrassem em
ritmos mais suaves, mais tipo slow e rumba, pelo que, sendo aqueles somente
musicados e não cantados, deram ao vocalista Alex vontade de pular do palco e a
chance de, também ele, rodopiar nuns bons passos de dança. O que antes fora
baile desgarrado e à vara larga, dera agora lugar ao direito e dever de cada
qual se agarrar ao par que conseguisse aliciar. E, para espanto da malta, eis
que o Alex avança na direção do BM. Mesmo sem o trivial convite, agarrou-se
ao jovem engenheiro, como quem entrelaça uma dama, mais parecendo que aquilo
era o da Joana. Ora o engº BM, cuja linhagem tinha sido patenteada para
emparceirar com o sexo oposto, não gostou muito da cena e, ao mesmo tempo que
tentava libertar-se das garras do
atrevidote cantor, que já o enlaçava pela cintura e dera início aos primeiros
passos de dança, ouviu deste, este jeito de desabafo:
―
Ah preto, preto! – guinchou o Alex.
Esta agora foi a melhor! Preto? O
BM teria traços de alguma ascendência indiana, mas daí até ser preto, ia uma
colossal diferença. Em boa verdade, o Brás Menezes, com aquela tez amorenada e envergando um esbelto fato branco, originava um tal contraste que, comparando as duas cores, o seu rosto seria bem mais preto que branco... Mas, seja como for, ou fosse como fosse, o certo é que o
engº Brás Menezes tinha caído no goto
do artista do momento: o cantor Alex. Este, sentindo uma grande fobia pelo sexo oposto, preferia um par masculino. E, ali por aquelas bandas, parece que mais másculo que o BM não era fácil encontrar, daí a escolha do cantor e músico. O tipo tinha grande olho.
Bem, mas a verdade é que, depois de ter passado pelo sacrifício daqueles demorados e intermináveis rodopios nos braços do Alex, o cartel do BM junto das vamps subiu vertiginosamente. Até o sagaz alentejano de Odemira, Analídio Dimas, tirou partido da onda criada pelo seu chefe, agarrando-se, indiscriminadamente, a tudo o que por ali usasse saias. Feias ou bonitas, tanto lhe fazia. Ele, lá nisso, não era esquisito.
Foi o corolário de uma grande noite de borga e folia. Mas folia fina, já que não era qualquer mastronça que entrava naqueles saraus, daquelas noites de verão do "AlgarveSol". Era tudo gente selecionada, de primeira água. Nem os meus chefes se exporiam a outro qualquer cenário, que não fosse de etiqueta.
Bem, mas a verdade é que, depois de ter passado pelo sacrifício daqueles demorados e intermináveis rodopios nos braços do Alex, o cartel do BM junto das vamps subiu vertiginosamente. Até o sagaz alentejano de Odemira, Analídio Dimas, tirou partido da onda criada pelo seu chefe, agarrando-se, indiscriminadamente, a tudo o que por ali usasse saias. Feias ou bonitas, tanto lhe fazia. Ele, lá nisso, não era esquisito.
Foi o corolário de uma grande noite de borga e folia. Mas folia fina, já que não era qualquer mastronça que entrava naqueles saraus, daquelas noites de verão do "AlgarveSol". Era tudo gente selecionada, de primeira água. Nem os meus chefes se exporiam a outro qualquer cenário, que não fosse de etiqueta.
Extraído de: "DEGRAUS do 2º LANÇO".
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarBelo relato! Nem contava com "coisa" diferente!És de facto um grande contador de histórias ZecaZECARIAS!
ResponderEliminarMuito agradecido pela sua opinião.
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