Onde se fala de
cromos, excêntricos e golpistas
À
semelhança do que acontecia nas outras obras onde trabalhei na adolescência, já
relatadas no Volume I, também nestas apareciam aqueles indivíduos que, por isto
ou por aquilo, patenteavam uma certa excentricidade; porque fugiam ao comum
comportamento do cidadão normal, eram rotulados de cromos, excêntricos ou morcões.
Durante a minha estada nesta obra, entre 1966-1969, muitas peripécias ocorreram,
mas seria fastidioso esmiuçá-las todas. Esta, que se segue, é a que, por agora, pretendo
realçar.
Este nosso amigo era um fulano que se chamava Artur Santos, mas
que toda a gente o conhecia por Muleta Negra. Era assim alcunhado
devido a dois fatores: um, porque ele funcionava como muleta no suporte à
empresa, em termos de angariação de pessoal para as obras, e como a sua tez, por
demais negra, devido ao surro, era evidente… O outro motivo, terá sido devido ao facto de
existir na altura um toureiro de meia-tijela, que apareceu por aí com aquele
pseudónimo. De tão fraco ele era, que desapareceu de cena tão lesto como aparecera. Este
Santos tinha como função principal percorrer certas zonas do país, na
angariação de mão-de-obra para as obras em curso. Ele tinha um prémio de 50$00
por cada trabalhador que apresentasse no escritório da obra do Carregado,
para isso, e para facilitar a mobilização, ele prometia mundos e fundos que,
como se depois se constatava, não poderia garantir. Por isso é que, de vez em
quando, ele aparecia na obra com os olhos amarrotados e, ao vê-lo naquele estado, já todos sabiam
que a gama de aparelhos de televisão, frigoríficos, tratamento de roupas e até mulheres,
por ele prometidas, não tinham sido distribuídas pelas Construções Técnicas aos trabalhadores por ele angariados.
O
Muleta
Negra, vindo de uma obra da Somague, creio que da Barragem do
Carrapatelo, queria fazer crer a todos com quem falava que, antes de ser
barragista, fora empregado da Citroen, em França, onde tinha a profissão de experimentador
de carros. Ora eu estou em crer que este mentiroso compulsivo, nem um Dumper
sabia conduzir, quanto mais um Citroen boca-de-sapo…
O
Santos protagonizou outros episódios, noutras obras que, a seu tempo, serão narrados.
Extrato do VOL.II de "DEGRAUS e MARCOS da VIDA"
Sem comentários:
Enviar um comentário