segunda-feira, 29 de julho de 2013

- A última vez que ouvi a fala do engº H. Leitão - (1988)

-A última, das 4 vezes, que o engº Henrique Leitão falou comigo-


      Na manhã do dia 10 de junho (creio que em 1988), ao ler o JN, deparei com uma notícia que elencava as personalidades que seriam medalhadas nesse dia pelo Presidente da República. Li então que a cerimónia ia ter lugar no Palácio dos Congressos de Braga e nela, além de outros, obviamente, ia participar o engº Henrique Leitão. Ele estava referenciado, como figura a homenagear, na área do Mérito Industrial. Ora, na altura, estando eu a trabalhar e a residir no Porto, portanto ali a dois passos da cidade dos Arcebispos, mal me ficaria se não metesse pés a caminho a caminho de Braga. À data estava eu na obra do Aeroporto Sá Carneiro e já não pertencia à empresa há cinco anos.

      É verdade que eu, durante os dezassete anos em que trabalhei nas Construções Técnicas, como tantos outros colaboradores cujas especialidades e funções eram desempenhadas em Obra, não tinha muitas hipóteses de chegar à fala com o fundador das Construções Técnicas, mas isso também não me obcecava, porque, além de sempre ter procurado medir as distâncias e de tentar manter os pés assentes no chão, não fui nunca do género de se pôr em bicos de pés para patrão ver. Mas tudo isto para dizer que, enquanto para as pessoas, cuja base de trabalho era a Sede, seria normal ver e ouvir o engº H.L. no dia a dia, para mim isso era coisa transcendente. Por tal facto, pela raridade, ainda hoje me lembro das quatro vezes que o patrão falou comigo.

     A primeira vez foi na Marina de Vilamoura (1972), aquando da sua visita à obra. Depois de me ter visto retirar o carro de debaixo do telheiro (por minha iniciativa), para dar lugar ao seu Mercedes, disse-me que gostava muito da cor daquele meu Fiat 128 grená; na segunda vez foi na obra da Cimpor em Alhandra, quando, no interior do escritório e através da janela, viu o tal Fiat 128, de cuja cor havia gostado dois anos antes. Disse-me ele que aquele pó do clínquer, de tão agressivo, me iria dar cabo da pintura do carro; da terceira vez que o engenheiro H. L. me dirigiu a palavra, foi em Marrocos. Tinha ele regressado do Brasil, onde esteve exilado. Foi uma autêntica festa aquela sua ida à obra da C.I.O.R, em Marrocos. Até a "Carga da Brigada Ligeira" marroquina atuou nesse significativo evento. Mas então, dizia eu que, nesta terceira vez, quando o engº H.L se deslocou mesmo ao cerne da obra e se encontrou comigo, ouvi assim da sua boca:
     - Estou feliz por vir encontrar aqui muito boa gente! Também já estive, lá em cima, no escritório, com o Rogério Feio e com o Pedroso.

     Pareceu-me um desabafo com alguma ponta de emoção.
     Agora vou concluir como comecei: com a cerimónia da sua condecoração com a Medalha de Mérito Industrial, naquele dia 10 de junho, em Braga.
     Assisti, calmamente, a parte do cerimonial, mas quando, a certa altura, ouvi a chamada e a apresentação do engº Henrique Leitão para ser agraciado pelo Presidente M. Soares, com  aquele galardão, senti um tal arrepio, que ainda hoje o sinto quando dele me lembro.

     Terminada que foi a cerimónia, dirigi-me ao parque de estacionamento e aí cumprimentei e conversei, por uns momentos, com o engº H.L. e seu filho João Pedro, sendo este o próprio condutor da viatura. Foi esta a quarta, e última vez, que ouvi a fala do grande timoneiro daquela GRANDE ESCOLA que foram as CONSTRUÇÕES TÉCNICAS.

2 comentários:

  1. Zé Luis, obrigada por tão bonito testemunho.
    Um abraço
    Graça

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    1. Graça, são estes episódios, guardados na nossa mente, que nos conferem alguma estatura moral com a qual tentamos levar a vida e o intelecto no dia a dia. Na realidade, a opinião de todos os que, mais de perto, conheciam bem o engº Leitão, era a de que se tratava de uma pessoa com uma formação e estatuto moral acima da média. É bom que ele seja assim recordado por todos. Um abraço.

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